Quem viveu os anos da década de 1970 e 1980, em que o Brasil se preparava para deixar os chamados 'anos de chumbo', pode fazer comentários a respeito das 'revoluções' e manifestações que ocorrem no Brasil de hoje. Não se trata de preciosismo, mas de conhecimento adquirido durante o passar dos anos.
Não pretendo, e não vou, fazer juízo de valor quanto ao regime militar, também conhecido por revolução. Não é possível negar que a repressão era algo latente que assolava o nosso país e as principais lideranças políticas e sindicais, que ainda despontavam naquela época, não se acovardaram perante a pressão exercida pelo Governo.
O fim do regime ditatorial era uma questão de tempo. A existência de apenas dois partidos políticos não era empecilho para que grandes manifestações fossem organizadas. A Praça da Sé, em São Paulo, e a fachada da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, foram transformadas em pontos de referência no que tange a transformação social e a consequente redemocratização de nosso país.
Milhares de pessoas se reuniram com um objetivo comum. Nenhum dano ao patrimônio público ou privado foi registrado. A ordem prevalecia. Discursos inflamados da classe política somavam-se a ação do sindicalismo ainda incipiente, que promovia greves e trabalhava com o intuito de mobilizar a população quanto aos anseios da época.
A geração de 1980, que viu todos esses fatos ocorrerem, é tida como perdida, aquela que não pode fazer nada em favor do outro. Mas, quando comparamos aqueles jovens aos de hoje, uma pergunta incômoda nos surge na memória: como classificar a geração dos jovens que hoje protestam por causas bem menores daquelas debatidas no passado e que transformam as ruas e avenidas das nossas cidades em verdadeiros campos de guerra, onde policiais e vândalos travestidos de manifestantes se enfrentam de forma contumaz?
Não cabe a mim debater a validade dos protestos que ocorrem nos dias atuais, afinal, não acredito que a mobilização da população tenha ocorrido pela simples redução no valor cobrado nas tarifas de transportes. Se esse pseudo-argumento fosse verdadeiro, porque os paulistanos não foram às ruas após a aprovação, pela Câmara de Vereadores da capital, do aumento no valor do IPTU?
Falta uma pauta de reivindicações clara, objetiva e, principalmente, argumentos para os 'mani-festantes' de hoje. No passado, os protestos modificaram, e entraram, para a história do país justamente pela contundência de seus argumentos e, na minha maneira de ver, talvez seja por isso que a 'força' da baderna e do quebra-quebra não precisou ser utilizada.
As sessões de quebra-quebra promovidas na atualidade entraram para história como o lado obscuro de uma nação que não sabe pelo que clama, por quais melhorias anseia e faz com que meia dúzia de vândalos estrague a democracia conquistada à duras penas por quem sabia o que queria e o que buscava.
Enquanto não soubermos nos posicionar.... continua-remos fazendo parte de uma sociedade dividida e que não sabe buscar aquilo que pretende com argumentos.
*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.
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