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Os sobreviventes, contudo, viveram com uma dor, um desamparo, talvez uma culpa por terem saído com vida, quando tantos outros, mais ou menos amigos, não conseguiram. É preciso, portanto, aprender a sobre-viver. Tarefa difícil, mas possível.
Os jovens são gregários, vivem em turmas, que podem ser chamadas por tribos, porque agregam jovens por identificações. É por isso que, para eles, os amigos são fundamentais. Na tentativa de buscar autonomia e "romper" com o cordão umbilical familiar, os jovens supervalorizam os companheiros de turma porque encontram neles a possibilidade de consolidação de sua identidade, que não é mais apêndice do pai ou da mãe. Perder um amigo é, por assim dizer, perder parte de si mesmo.
Os sobreviventes de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, perderam muito mais do que podemos imaginar. Considerando as relações identitárias, per-deram-se juntamente com tantos que não sobre-viveram.
Outro aspecto a ser considerado é a vivência da tragédia. Os sobreviventes passaram por uma situação-limite: de cara com a morte, salvaram-se. Porém, assistiram à morte daqueles que com eles "badalavam" em uma festa universitária. A trágica experiência vivida pode gerar muitos desconfortos e até transtornos psíquicos que devem ser acompanhados por profissionais, a fim de que não venham a destruir, no futuro, as manifestações naturais da vida.
Por fim, necessitamos amparar os sobreviventes no que diz respeito à culpa. Muitos poderão viver ator-mentados por uma culpa inexistente, mas concreta-mente presente nos seus pensamentos. A culpa pode aprisionar suas emoções, levando-os ao desenvolvi-mento de depressões e desencantos.
Os jovens sobreviventes precisam que os educa-dores da Universidade Federal de Santa Maria - que perdeu mais de cem estudantes na tragédia - e outros profissionais da comunidade esbocem um trabalho de acompanha-mento para que possam elaborar seus lutos. Além da cobrança por maiores responsabilidades políticas e civis, os voluntários podem, à distância, criar uma assistência online e grupos de apoio aos sobre-viventes. Autoridades religiosas podem, também, estabelecer tempos e espaços para acolhida e escuta das angústias dos que ficaram.
Enfim, precisamos dar nossas mãos aos jovens para que possam atravessar o túnel escuro e, sobre-tudo, ajudá-los a perceber que há luz e saída no final.
* Francisca Paris é pedagoga, mestra em Educação e diretora de serviços educacionais do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva
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